Barco Zaire

O Barco Zaire, hoje é uma referência histórica na cidade do Lobito, que reporta um momento muito especial da nossa História da Luta de Libertação Nacional. Está indelevelmente marcado pela atividade política clandestina, que nos anos 60 alcançou vários palcos.

No velho bairro do Lobito Velho, esta e outras embarcações similares cumpriram missões importantes. Enquanto meio detrabalho dos pescadores, atinha-se à atividade da pesca, e ao consequente transporte deste produto para os mercados ao norte do país, e ainda na República do Congo. Sem que as autoridades policiais suspeitassem das motivações dos ocupantes, aparentemente só de pescadores, porém, entre a sua atividade original, mascararam uma outra, a de transporte de passageiros clandestinos. No dia 7 de Novembro de 1961, ainda sob o efeito dos acontecimentos do ataque às prisões a 4 de Fevereiro, seguiram na embarcação, 7 (sete) jovens estudantes, nomeadamente, (José Eduardo dos Santos, Afonso Vandúnem (Mbinda), Brito António Sozinho, Mário Afonso Santiago, Sebastião dos Santos, Luiz Gonzaga e Artur Silvério, que integrados no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) que operava a partir da cidade Capital, Luanda. Dali, partiram sigilosamente, com destino a Leopoldville. Seguia a rota Luanda-Cabinda-Matadi. Justificava- se este procedimento, a necessidade de ampliação da actividade política, para além das fronteiras de Angola e já na vertente armada.

A mobilização que acontecia na capital e nas demais províncias de Angola, promovia a fuga clandestina de patriotas que se juntavam no exterior aos Movimentos de Libertação, nomeadamente ao MPLA e à UPA. Pretendiam deste modo engrossar as fileiras dos combatentes que iniciaram novas formas de luta a partir do exterior, nas bases de guerrilha para enfrentar o exército colonial português, e que visava em última instância alcançar a Independência de Angola. A simbologia deste marco que infere a participação na luta de distintas figuras das elites intelectuais, juntaram-se a estes, os estudantes, os marítimos, os pescadores e outras classes profissionais. A vontade expressa para a liberdade, e para a independência de Angola.

O sucesso desta operação, que levou sem mácula os estudantes patriotas ao Congo-Leopoldville, juntando-se à sua organização política, revela a perícia e destreza dos promotores desta iniciativa. A partir daí, a vida destes jovens seguiu as diferentes etapas da luta. José Eduardo dos Santos teve uma actuação como combatente, que o projetou para as altas instâncias partidárias, tendo alcançado o cargo mais alto da Nação, depois de vencido o colonialismo com a queda do regime colonial a 25 de Abril de 1974, e a proclamação da Independência de Angola a 11 de Novembro de 1975 pelo Presidente António Agostinho Neto. Volvidos apenas 4 anos do mandato de Neto e na sequência da sua morte, a 8 de Setembro de 1979, José Eduardo dos Santos assume o cargo de Presidente da República de Angola em Setembro do mesmo ano.

Simboliza-se no Barco Zaire, uma etapa importante da luta de libertação nacional, que se pretende perpetuar doravante, através de eventos vários de cariz sócio-cultural, num apelo constante às novas gerações para o conhecimento da História e da cultura desta cidade e do País em geral.